Ribeirão Preto, 16 de Junho de 2025
A palavra ceratocone tem origem em duas palavras gregas: kerato (que significa córnea) e konos (que significa cone).
O ceratocone é uma distrofia não inflamatória, na qual a baixa rigidez do colágeno corneano permite que a córnea
sofra abaulamento e afinamento progressivos, adquirindo uma forma cônica, conforme o próprio nome diz. Com esta
forma, provoca um astigmatismo irregular que causa embaçamento e distorção na visão.
Sua incidência é de aproximadamente 54 casos para cada 100.000 habitantes e as manifestações clínicas irão surgir
entre os 10 e os 30 anos de idade. A doença geralmente inicia-se na adolescência, sendo progressiva em 20-30% dos
casos. Em cerca de 95% destes, o ceratocone deixa de evoluir e estabiliza entre os 30 e 40 anos de idade.
A progressão do ceratocone não segue um padrão pré-determinado. Recomenda-se, portanto, visitas periódicas ao
oftalmologista para acompanhamento com exames específicos e adequação do tratamento ao estágio do ceratocone.
Apesar do grande número de pesquisas sobre a origem do ceratocone, não existe uma resposta definitiva sobre o assunto.
Vários estudos demonstram que o ceratocone é multifatorial: existem os fatores genéticos, ambientais e celulares, e
qualquer um deles pode formar o gatilho que irá dar início a doença.
Dentre as doenças já associadas ao ceratocone podemos citar a rinite, a alergia crônica (atopia), e a Síndrome de Down.
Existem indícios que associam o ceratocone ao ato de coçar os olhos.
Isso pode ser causado pelo trauma mecânico na córnea assim como pela liberação de substâncias pró-inflamatórias na lágrima.
Nas fases iniciais a visão poderá ser afetada levemente e os principais sintomas são:
- Embaçamento visual e/ou distorções moderadas;
- Fotofobia;
- Irritações;
- Ofuscamento.
No caso de evolução da doença e conseqüente maiores alterações da córnea:
- A visão vai se tornando mais embaçada e distorcida tanto para longe quanto para perto;
- Frequente alteração nas prescrições dos óculos, que também já não proporcionam uma correção visual satisfatória;
- Aparecimento de diplopia (visão dupla) ou poliopia (visão de vários objetos) no olho afetado.
O diagnóstico é feito clinicamente através de indícios (como mudanças frequentes da refração e a impossibilidade de conseguir boa acuidade visual
com óculos) e do exame oftalmológico completo, devendo ser confirmado através de exames complementares, como:
- Topografia Corneana Computadorizada - Eyemap;
- Paquimetria Ultrassônica;
- Aberrometria - Zywave;
- Orbscan - Tomografia de Córnea e Segmento Anterior.
Podemos diagnosticar precocemente alterações corneanas através de equipamentos altamente
sensíveis e específicos como o ORBSCAN (Tomógrafo de Córnea), que faz um mapeamento em
terceira dimensão córnea baseado na sua curvatura e espessura, e o EyeMAP, Topógrafo de
córnea que possui o índice Rabinowitz para diagnóstico de ceratocone. Com isso, distrofias
corneanas como o ceratocone ou ectasias são facilmente diagnosticadas e sua progressão
(ou não) pode ser acompanhada com maior precisão.
O objetivo do tratamento do ceratocone é proporcionar a melhor visão possível ao paciente, de
acordo com o estágio e a severidade da doença, bem como das necessidades individuais de cada um.
Durante a consulta de avaliação, exames específicos nos ajudam a definir qual o estágio do
ceratocone e a melhor indicação de tratamento para cada caso.
Nos casos iniciais pode ser suficiente o uso de óculos. Conforme a evolução da doença, podemos
dispor do auxílio de lentes de contato específicas para ceratocone ou de outras formas de
tratamento como o cross-linking corneano, o laser de superfície (PRK / LASEK), a ceratoplastia
lamelar e o transplante penetrante de córnea.
A técnica desenvolvida aqui no Instituto de Olhos Reynaldo Rezende é conhecida como MTSC - Método Seqüencial de Tratamento do Ceratocone.
O método, apresentado e premiado com menção honrosa no World Córnea Congress, realizado em Washington em 2005, é uma
associação da técnica de Ceratoplastia Lamelar com a aplicação do Laser Superficial Personalizado para a regularização
da superfície corneana e correção do astigmatismo irregular. Recentemente, com a introdução da técnica de Cross-Linking
Corneano, estudos científicos têm demonstrado resultados promissores em associação com o laser de superfície (PRK / LASEK),
objetivando maior estabilidade da córnea e melhoria da visão.
Saiba mais sobre o MTSC clicando aqui.
Tratamento do Ceratocone
O tratamento ideal seria a substituição apenas dos tecidos doentes. Ou seja, se a patologia instala-se primariamente na camada epitelial e estromal superficial, deve-se optar pela cirurgia que substitua apenas essas porções, mantendo as camadas saudáveis (endotélio), reduzindo o risco de rejeição e favorecendo uma recuperação visual mais rápida.
No Centro de Correção da Visão - Instituto Reynaldo Rezende utiliza o Método de Tratamento Seqüencial do Ceratocone - MTSC, que possibilita uma reabilitação estrutural e refrativa em um período de 4 a 6 meses, dependendo do grau de comprometimento corneano.
As etapas podem ser classificadas como segue:
Primeira Etapa: Correção Estrutural
Correção do formato anormal e restauração da transparência da córnea através da técnica de Ceratoplastia Lamelar. Essa etapa pode ser assistida por Excimer Laser, em caso de córneas muito finas, ou realizada com a utilização de um microcerátomo especial.
Realizamos nesta etapa a remoção de opacidades e o espessamento da córnea, como um reforço ou cintagem, prevenindo assim a recidiva da ectasia (abaulamento da córnea). Em até três meses realizamos a remoção das suturas da córnea e preparamos o paciente para a segunda etapa do tratamento.
Segunda Etapa: Correção Óptica / Refrativa
Correção dos erros refracionais, inclusive do astigmatismo irregular, através da utilização do Excimer Laser.Nosso equipamento é capaz de corrigir de forma personalizada aberrações esféricas e de alta ordem com a utilização da moderna tecnologia de frente de ondas (wavefront).
Vantagens em relação ao tratamento convencional (transplante penetrante):
- Segurança do procedimento. Apenas a porção anterior da córnea é trocada, e a porção interna, o endotélio, não é manipulada. Essa técnica diminui quase por completo a chance de rejeição do tecido corneano transplantado.
- Indicação de tratamento precoce. Devido a segurança e bons resultados, não necessitamos aguardar uma baixa de visão significante e debilitante antes de intervir.
- Não há necessidade de recorrer ao uso de lentes de contato rígidas e de difícil adaptação, inclusive associada por muitos à indução da progressão do ceratocone.
- Nos casos em que o ceratocone é leve, inicial ou frustro, apresentando apenas astigmatismo irregular, podemos como primeira etapa realizar o Laser superficial, para regularização da superfície corneana permitindo melhor acuidade visual sem a utilização de lentes de contato rígidas.
O cross-linking do colágeno corneano é uma técnica inovadora para o tratamento de pacientes
com ceratocone e ectasias de córnea. O precursor da técnica foi o Dr. Theo Seiler, MD, PhD
(Zurique - Suíça), que popularizou o uso da riboflavina e do UVA para o enrijecimento do
tecido corneano. É uma técnica não invasiva, já utilizada há mais de 5 anos na Europa, e
recentemente introduzida nos Estados Unidos e no Brasil.
O Cross Linking corneano não cura o ceratocone, ele é utilizado com o objetivo de evitar
sua progressão. O procedimento aumenta a rigidez corneana em cerca de 50%, fortalecendo-a
e tornando-a menos sujeita à deformação.
Esta técnica pode ser associada ao laser de superfície (PRK / LASEK), na tentativa de evitar
a progressão do ceratocone e ao mesmo tempo permitir a melhoria visual.
Saiba mais sobre o Cross-Linking clicando aqui.
Saúde do Olho: Coçar os olhos pode causar Ceratocone
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Transplante Penetrante X Ceratoplastia Lamelar no Ceratocone
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